Vão a Mérida!
Amanhecido o dia, malas mais ou menos prontas, descemos para tomar nosso gostoso café e, depois, nos arrumar para deixar Madri rumo a Lisboa. Me surpreendi com Madri, achei bonita sim, um dia quem sabe talvez Deus queira eu volto. Antes de Lisboa, passaríamos por duas cidades: Mérida – ainda na Espanha – e Évora – já em Portugal.
A viagem começou como mudança: sai Gonçalo e entra Gesù. Isso mesmo, Jesus nos levou para viajar! Não foi uma mudança muito grande, apesar do Gonçalito ser mais engraçado. E então saímos de Madri em direção ao sudoeste, rumo a Mérida. Tememos e confirmamos que as passagens pelas cidades não passavam de simples ‘motivos’ para justificar um dia de viagem. Pelo menos a estrada continuou bonita.
Mas a viagem não foi tão tranqüila assim. Quando faltava uns 30km para chegar ao nosso primeiro destino do dia, uma viatura X-trail da Guarda Civil de Trafego espanhola mandou o ônibus parar no acostamento. Disseram que o ônibus passou por eles a mais de 100km/h, a máxima permitida. Aí foram ver tacógrafo, e acabaram vendo que o pára-brisa tava trincado, que havia uma batida remendada no pára-choque...
Só liberaram a gente para prosseguir viagem quando o motorista (um italiano que não me recordo o nome) pagou a multa em cash, €500,00 na bucha. E foi sorte, eles queriam apreender a carteira dele. Realmente o ônibus estava avariado, mas era tão bom quanto os outros, e o motorista também. Pecado é não poder passar dos cem em estradas tão boas. Enfim, fomos a Mérida!
Mérida não era apenas uma cidade de duplo sentido. Segundo nossos guias e o roteiro, Mérida fora uma cidade romana, uma das mais antigas, dona de um grande pólo arqueológico. E também tinha... mais nada, era só isso mesmo e a gente brincando com a pronuncia rápida do nome.
Nós chegamos em (ou na) Mérida por volta das 11h, se não me engano. Vimos - do ônibus mesmo - um circo romano, e descemos mais adiante em uma praça (de Mérida), próximo a um sítio, onde poderíamos visitar mais ruínas. Descemos, fomos andando, com Gesù nos indicando o caminho até a entrada do parque das ruínas, tiramos algumas fotos...
Pra entrar nas ruínas pagava-se, no museu - com escrita romana, mvseo - também, para andar de trenzinho também, talvez coisas que valessem a pena, talvez não, preferimos andar um pouquinho e encontrar um lugar para almoçar que era o melhor que a gente fazia mesmo, pois tínhamos pouco tempo. Ou seja, mais um pretexto pra não se dizer que passou o dia viajando.
Entramos num restaurante próximo ao museu, e fomos recebidos por 3 embutidos de pernis de porco do pé preto, pendurados na entrada. Quase todos os da viagem foram para lá, ocupamos varias mesas, separados em dois grupos. Ficamos com os mais próximos: Paulo, Dorothy, Claudia, Maria Alice, Iracema. Ainda estavam Lúcia, Benedita, Cláudio, Balthazar, entre tantos na outra mesa. Conversamos, brindamos, foi um dos momentos mais felizes da viagem, rimos pacas, todo mundo já mais íntimo, foi ótimo.
Comi cogumelos e carne, o Paulo me viciou em comer pão mergulhado no azeite e sal, tomando vinho, muito gostoso. A fanta laranja de lá é de laranja mesmo, não é aquela coisa artificial daqui, é suco de laranja na água com gás. Depois de comer e tomar a sobremesa (o meu foi chocolate), cantamos parabéns para todos nós: Paulo e Dorothy haviam feito aniversário em junho, eu e a Gi também, então cantamos todos para a saúde de todos.
Saímos do restaurante direto para a praça, onde o ônibus já nos aguardava para mais um trecho de viagem. Quando chegamos, Gesù começou a contar quantos estavam pra saber se faltava alguém. Enquanto esperávamos, percebi uma musiquinha. O ônibus era enfeitado com bichinhos de pelúcia, uma mula de pelúcia, um touro vermelho e chifrudo de pelúcia...
A música vinha do touro, ficava cantando e dançando. Engraçado, mas confesso que estranhei um pouco um motorista gostar tanto de pelúcia. Tudo bem, era um motorista com brinco dos dois lados, que fazia luzes nos cabelos que lhe restavam, mas... deixa pra lá, preconceito meu, né?!
Então, quando chegaram os últimos que faltavam da nossa turma, Gesù contou mais uma vez, fecharam-se as portas e partimos para o próximo destino, Évora, deixando Mérida pra trás. Fomos felizes pela estrada porque Jesus nos tirou da Mérida. Quanto trocadilho infame!!!
Ora pois pois!
Então pegamos a estrada rumo a Portugal. Ao longo do dia, fui percebendo a mudança de terreno. Saímos de bosques e campos para alguns prados mais abertos e amarelados e árvores mais espaçadas, como os vinhedos. Não demorou muito e chegamos a Évora. Logo na entrada havia um aqueduto antigo, construído também pelos romanos, e depois fomos para o centro histórico da cidade.
Évora é uma cidade de ruas pequenas, bonitas, cheias de árvores, patrimônio mundial da UNESCO... e só. Vimos uma igreja aqui, ali, acolá, a cidade estava enfeitada para a festa de Santo Antônio, passamos por uma praça muito bonita, florida, com uma homenagem a Vasco da Gama, e fomos ao que pareceu ser o centro turístico da cidade, encontramos um bocado de lojas chinesas, e pronto! Acabou-se a cidade.
A única coisa que me chamou atenção foi o Tribunal da Relação (!), uma casa antiga como se fosse um tribunal de justiça mesmo, mas não sei pra quê servia. Todos concordamos por unanimidade que os portugueses gostam de discutir a relação. Também não posso me esquecer de contar dos pavões que vimos, um macho cortejando uma fêmea, mas pelo que vimos, eles vão recorrer ao tribunal.
Acompanhamos Gesù até o templo de Diana, uma ruína romana, mas nem chegamos a entrar, só serviu pra andar um pouco mais. Fomos porque pensamos que era pra subir com ele pra ver alguma coisa, mas ele foi só deixar um casal (que tinha uma filha linda, uma bebê chamada Diana) porque eles queriam tirar fotos lá.
Então fomos às lojas, já alertados que muitos dos produtos eram chineses, não eram tradicionais, eram cópias, que os orientais em Portugal tinham se tornado uma praga, bem como outros imigrantes. Tinha até uma loja chamada República das Bananas. Tenho certeza que o dono era brasileiro, e colocou uma bandeira portuguesa na fachada para enganar, já que os portugueses levam aquela maldita fama.
Então só andamos mais um pedacinho e começamos a voltar para o mesmo local onde havíamos deixado o ônibus. Demoramos ainda um pouco porque Balthazar havia perdido o cartão de crédito, provavelmente deixou na, ops, em Mérida, mas ele foi na loja que havia passado para confirmar. Depois que ele viu que não ia conseguir encontrar o cartão, subimos no ônibus e fomos para Lisboa, enquanto ele ligava para a prestadora para cancelá-lo.
“É uma casa portuguesa, com certeza...”
Então pegamos a estrada por montes descampados e repleto de bolas de feno espalhadas entre uma árvore e outra. Viajamos por mais duas horas de por bonitas paisagens, que eu não vi porque eu estava mobilizando o pessoal a se juntar para irmos para Fátima na tarde do dia seguinte, pois o nosso passeio não incluía tal itinerário. Muita conversa depois, chegamos a mais um pedágio de vários que passamos desde que saímos de Paris. Logo após o pedágio, já avistamos a ponte suspensa sobre o rio Tejo, sinal de que havíamos chegado em Lisboa.
De longe, já se apreciava uma bonita imagem, passamos ao lado de uma réplica do Cristo Redentor (braços abertos sobre o Tejo) e de repente começou uma comoção geral, uma onda de ÓÓÓÓÓÓÓÓÓÓÓÓÓ, NOOOOOOOOOOOOOSSA tomou de conta do ônibus. E com razão, a visão que se revelava era linda demais, a foz do Tejo, o atlântico aberto e a gente passando sobre o rio, uma cena muito bonita e marcante.
Daí por diante fomos apreciando um pouco da cidade enquanto o ônibus nos levava direto ao hotel. Além da ponte 25 de abril, vimos as docas do Tejo, passamos por um outro aqueduto (também bem conservado), por casas e bairros da cidade, até chegar ao SANA Metropolitan. Não sei bem, mas me pareceu ser o melhor hotel durante a viagem, além de bonito e confortável, tinha a vantagem de se falar português sem ninguém olhar estanho pra gente, me senti
Tínhamos então a noite para descansar, mas a gente não ia ficar deitado em euros por muito tempo. Combinamos de ir a algum canto, uma restaurante, um passeio, um fado, qualquer coisa. Resolvemos ir para uma praça do Rossio, e de lá a gente decidir onde jantaríamos. Sendo assim, descansamos um pouco, e depois descemos para o rol. Na minha cabeça, iríamos só os mais chegados, mas fomos quase todos da excursão.
Fomos de táxi para um ponto que combinamos, a tal praça, e lá ficamos esperando para que os outros chegassem. Detalhe: quase todos os táxis de lá são Mercedes-Benz, e mais incrível foi o preço, muito barato mesmo, mais barato que aqui no Brasil e muito! Em outro momento rodamos por quase vinte minutos e gastamos €5,00. Mas sim, o povo chegou e fomos andando por ruazinhas estreitas, apreciando a lua cheia, descendo umas ladeiras (o Paulo adorava as ladeiras), vimos o castelo de São Jorge ao fundo...
Passando por uma ladeira, vimos uma casa de fado, que entramos e resolvemos ficar. Ô lugar aconchegante! Não era um restaurante para muitas pessoas, nós ocupamos quase metade do local, que tinha uma vista linda de Lisboa, ao cair da noite, toda iluminada. Nos distribuímos nas mesas - que juntamos para não ficar ninguém separado – e começamos a fazer nossos pedidos, os garçons eram brasileiros em sua maioria, e conversamos, contar histórias, foi um momento muito bom da nossa viagem. Eu tava com uma vontade de comer massa, mas aí a Lúcia disse: vir a Portugal pra não comer bacalhau?! E o que é que tem?! Só não comi a massa porque a garçonete me recomendou um peixe como o melhor prato da casa.
Logo quando a casa “lotou”, o senhor que havia nos recebido se preparou para começar o fado. Era ele o cantor, uma senhora sentada, e dois músicos: um rapaz revezando entre a ‘guitarra portuguesa’ e o violão, e um senhor tocando a ‘guitarra espanhola’.
Tenho até agora a primeira música que ele cantou, “Cante o Fado!”, totalmente diferente daquela coisa puramente melancólica que eu achava que era o fado. Mas então ele cantou outras tantas músicas, a senhora também, com uma voz marcante, cantando “Uma Casa Portuguesa”, cantou também uma música que a mãe da Dorothy cantava antigamente, fazendo ela chorar... comprei novas flores para Gi, cantamos parabéns mais uma vez e foi tudo muito bom.
Tirando a falta de respeito de um grupo de jovens portugueses que não se calava para ouvir o fado, já que era tudo no acústico e no gogó, o resto foi muito bom: a comida, as companhias... Mas estava ficando tarde, e resolvemos ir de volta ao hotel. Então fomos descendo o resto das ladeiras até encontrar um ponto de táxi.
Então eu e a Gi, a Cláudia e a Iracema pegamos um Mercedes, deixando a Cláudia ir na frente. A cara do motorista parecia que ele tava anos sem dormir, uma cara morta, não sei, não me transmitiu segurança. Nem a cara nem a sua condução. Juro! Eu que gosto de carro, que gosto de velocidade e de ‘com emoção’, não via a hora de chegar no Hotel. Simplesmente o motorista só conhecia a primeira e a segunda marchas, e acelerava até o talo e só deixava pra parar quase batendo no carro da frente.
No começo achei até legal, mas depois ficou perigoso! A Cláudia ficou nervosa, todo tempo olhava pra trás para disfarçar um pouco, segurando nos ‘PQP’ do carro, assim como a gente que tava atrás segurava nos bancos da frente. Teve uma hora que ele não bateu por milagre. Tinha dois carros parados no sinal a nossa frente e ele simplesmente não freou! Ele ia bater nos dois, até que um dos carros avançou um pouquinho e ele foi atrás dele, só que o carro não prosseguiu e aí eu fechei os olhos e disse mentalmente: Bateu! Bateu! Bateu!!!
Não bateu por pouco, porque era Mercedes e tinha feito a revisão do freio no mesmo dia, porque era cada pisada que ele dava... Mal deu pra apreciar Lisboa a noite, queríamos mais era chegar logo no hotel. Pouco tempo depois nosso desejo estava realizado e, apesar do piano-bar do hotel ser bem convidativo, subimos para dormir enfim, e descansar para mais um rojão. Fim do sétimo dia.
continua...
http://davibemol.blogspot.com/2009/06/db-dia-oito-170608-ter.html
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